top of page

Produtos reutilizáveis são alternativa para um período menstrual mais ecológico

Caroline Névoa

Atualizado: 22 de jun. de 2020


Absorventes de pano e calcinha menstrual da marca Carinho Absorventes - Foto: Divulgação

Absorventes de plástico descartáveis, que impactam o meio ambiente por levar até 500 anos para se decomporem, não são a única opção possível para atravessar o ciclo menstrual. A bióloga Michele Santos, especialista em Saúde Pública, disse que um número crescente de mulheres busca alternativas menos agressivas à natureza e ao próprio corpo, substituindo o popular produto por opções mais conscientes e reutilizáveis, como absorventes de pano, coletores e calcinhas menstruais, ou então tentando reduzir o uso dos descartáveis e procurando descartá-los corretamente.


Vendidos no país desde 2015, os absorventes reutilizáveis são escolhas mais sustentáveis porque reduzem a quantidade de lixo gerado (uma mulher joga no lixo em torno de três quilos de absorvente por ano). Além disso, a bióloga explica que os materiais são menos nocivos ao ambiente e, no caso dos absorventes ecológicos e calcinhas, se decompõem mais rápido após o descarte, levam entre seis a dois anos.


Eles são sim boas opções, desde que usados conscientemente. Não adianta querer trocar de coletor a todo momento, não é necessário, por exemplo, ter três coletores ou ficar trocando todo mês - esclarece Michele.


Marina Reis, proprietária da Carinho Absorventes de Pano, acredita que a menstruação sustentável é um processo de reflexão, que se inicia com pesquisa e auto-análise para compreender qual alternativa funcionará melhor para cada corpo e rotina. A transição do descartável para o reutilizável é um momento de adaptação até a mulher se sentir segura e confortável com seu novo ciclo. Há sete anos Marina produz absorventes de pano para uso pessoal e em 2019 passou a comercializar suas criações para ajudar mulheres que desejam um período menstrual mais ecológico e seguro.


- São inúmeros os benefícios dos produtos sustentáveis, mas acredito que o maior deles está na conexão da mulher com seu ciclo. Recebo depoimentos maravilhosos sobre o momento da lavagem dos absorventes de pano, algo que parece ser um fardo vira um cuidado pessoal - conta Marina

Uma relação feminina mais sustentável com a menstruação é sentida pela estudante Marcelle Souza, que diz ter passado a se conhecer melhor por conta do uso de calcinhas menstruais. A universitária relata que buscou outro método para lidar com seu ciclo após desenvolver uma forte alergia aos absorventes de plástico. Além disso, ela queria diminuir o impacto negativo dos descartáveis na natureza. Marcelle encontrou a solução nas calcinhas reutilizáveis, que levam até dois anos para se decompor, e acredita que hoje seu ciclo não gera consequências danosas ao meio ambiente.


- Se não usarmos plástico já é um avanço. Pensar que eu não produzo mais tanto lixo é quase um alívio. Eu me sinto bem mais limpa, no sentido de não causar sujeira - ressalta Marcelle


Minimizar as consequências prejudiciais à natureza também foi o que motivou a designer de moda Sophia Rodrigues a aderir ao coletor menstrual, e logo depois à calcinha. Para ela, o grande número de absorventes não biodegradáveis usados mensalmente é o que causa o impacto, não a menstruação. Sophia ressalta também que os produtos sustentáveis são mais econômicos no longo prazo, por serem reutilizáveis. Em um ano, uma mulher com fluxo médio gasta pouco mais de R$80 em absorventes descartáveis. Enquanto um pacote com 16 absorventes externos custa cerca de R$7, o preço do coletor varia entre R$50 e R$100, porém este pode ser usado em média por cinco anos (o tempo de uso é diferente para cada marca).


- Na hora da compra é mais caro mas, como pode ser usado novamente, não é um gasto mensal. É uma economia significativa no longo prazo - lembra Sophia


Por sua vez, a estudante Vitória Brandão lembra que nem toda mulher deseja adotar o uso de absorventes de pano, coletores e calcinhas menstruais. Ela conta que não se adaptou a nenhuma das alternativas, não se sentia segura ou confortável em um momento já desconfortável. A estudante reconhece as consequências do descarte de absorventes de plástico na natureza, mas acredita que o debate da menstruação sustentável pode criar uma narrativa de culpabilização feminina, ao tornar obrigação da mulher a diminuição do impacto ambiental de seu ciclo.


- A questão seria mesmo investir em alternativas sustentáveis que garantam conforto para diferentes tipos de mulheres ao invés de culpar elas por não se adaptarem - afirma Vitória


Um equilíbrio entre bem-estar, confiança no produto (descartável ou reutilizável) e a rotina da mulher é a principal questão para a estudante Camila Santos, que diz ter ciclo "misto" com uso de absorventes de plástico e calcinhas menstruais. Ela destaca que, além de serem biodegradáveis, os produtos de tecido irritam menos a pele e por isso são mais agradáveis de usar. A estudante conta que ainda utiliza os não-recicláveis em dias de fluxo intenso que precisa ficar muito tempo fora de casa, e acredita que essa situação deve ser a mesma para muitas mulheres.


- Os sustentáveis são, sim, melhores para o equilíbrio do planeta, mas podem ser difíceis de adaptar para uma rotina corrida. Muitas vezes é difícil excluir totalmente os produtos descartáveis, por isso, acho que a diminuição já é um bom caminho para a redução do lixo - explica Camila.


Registros históricos apontam que sociedades antigas, como os egípcios, contavam com produtos para absorver o sangramento mensal feminino e estes objetos evoluíram até chegar às alternativas que temos hoje, descartáveis ou não. A menstruação é um processo natural do ciclo reprodutivo feminino que por si só não afeta negativamente o meio ambiente, porém a fabricação dos produtos para este período tem um significativo impacto ambiental (além de necessitar de grande volume de água, muitos usam produtos químicos abrasivos ao solo).


Absorvente de pano da Carinho Absorventes - Foto: Divulgação

15 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page