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Atualizado: 4 de jul. de 2020

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Junta Local: Feira de produtores locais na zona sul do Rio de Janeiro, Botafogo. Foto: Site Junta Local


O preço elevado e o acesso limitado dos alimentos locais são as maiores dificuldades que o Locavorismo tem para alcançar um grande número de pessoas, segundo a socióloga política Elaine de Azevedo, da Universidade Federal do Espírito Santo. O movimento que traz a consciência na origem do que se come, prioriza os produtos de forma local, os quais não viajaram quilômetros para chegar até as prateleiras do supermercado.


O movimento é atrelado ao movimentos de Agricultura Orgânica ou Ecológica e de Agroecologia. A socióloga aponta as as maiores dificuldades do Locavorismo em seu artigo de 2013, “O ativismo alimentar na perspectiva do Locavorismo”.


O Locavorismo é um movimento que cresceu na atualidade estimulado pela preocupação com a quantidade de substâncias nocivas nos alimentos. Os altos índices de agrotóxicos fazem a procura de produtos orgânicos aumentar.


Na prática, a forma mais comum que o Locavorismo tem, é a compra de produtos direto de agricultores, de pescadores artesanais, de agrofloresteiros, de quilombolas, de indígenas, e todas pessoas que possuem pequenas produções que moram perto do local de venda.

- O que é “perto” não é um consenso no Locavorismo. Pode ser no seu município, estado ou mesmo país. Mas eu diria que, para um país continental como o Brasil, a noção de alimento local está muito atrelada ao Estado ou ao município de origem. - Elaine relata.

A bióloga Fernanda Tubenchlak aderiu ao movimento após manter contato constante com os produtores de agricultura familiar em seu campo de estudo da biologia. Hoje em dia, a prática deste consumo tornou seu estilo de vida, assim como para outras pessoas, o qual demanda atenção em pequenos detalhes nas compras de produtos.


Pode parecer complicado aplicar esse estilo de vida em meio a cidade urbana. Encontrar produtos com rótulos específicos e claros sobre sua origem não são uma tarefa fácil. Mas existem outras dimensões de apoio para o Locavorismo. Principalmente para a população urbana que depende das prateleiras do supermercado, as feiras de comércio local estão em alta nas cidades grandes do Brasil.


No Rio de Janeiro, na zona sul da cidade, a necessidade de aproximar o produtor ao consumidor foi percebida pelos criadores da Junta Local, feira realizada frequentemente em botafogo. Com objetivo de trazer maior transparência e acesso mais democrático à comida boa, local e justa, Thiago Nasser, fundador da feira, conta que o público não vê a comida como um produto em si, e sim além, como a relação com o produtor e a transformação social que pode ser gerada.


- Atendemos um público que enxerga valores importantes na comida e como pode ser uma ferramenta de transformação social. O alimento é além de um rótulo de orgânico, sem glúten ou sem lactose. É um bem que pode ter uma apreciação maior, com qualidade e consumido de forma que valoriza o produto, produtor e o meio ambiente. - aponta Nasser.


A Junta Local iniciou em 2015 com a colaboração de quinze produtores locais e com frequência de uma feira mensal. Hoje em dia, Thiago conta que possuem 150 produtores locais associados e um aumento para quatro feiras mensais. A cidade que antes comportava eventos de alimentos com pegadas gastronômicas que passaram a desaparecer, foi substituída por feiras de comércio local.


Atualmente, o Rio de Janeiro e cidades brasileiras como São Paulo e Belo Horizonte possuem lugares que oferecem opções locais além das feiras, como mercearias, grupos de compra coletiva, compra direta do produtor, pequenos mercados ou o sistema CSA (Comunidade que Suporta Agricultores).


ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL


Uma das formas de apoio ao produtor local é o chamado originalmente de Community-Supported Agriculture, traduzido em português para Comunidade que Sustenta a Agricultura. Como um dos meios de proporcionar mais sustentabilidade, a bióloga Fernanda Tubenchlak explica que o modelo apresenta uma prática de trabalho conjunto entre produtores de alimentos orgânicos e consumidores.


- Um grupo fixo de pessoas se compromete por um determinado tempo a cobrir o orçamento anual da produção agrícola, enquanto recebem o que foi produzido por este sítio. O bom é que o produtor não sai no prejuízo se acontecer alguma coisa com a sua produção, no máximo cada pessoa que contribuiu irá receber alguns produtos a menos do que costuma obter. - conta a bióloga.

A prática ainda não é comum. Mas segundo Elaine, existe uma variedade de lugares nas áreas urbanas que promovem este contato do consumidor e produtor com as cestas de produtos orgânicos. O projeto de extensão da UFRJ, Capim Limão, organiza feiras de agricultores no campus da universidade e a ordenação de cestas orgânicas para alunos e professores.


- Eu ouso dizer que em muitas capitais e cidades grandes é mais fácil encontrar alimentos locais e orgânicos do que alguma cidades de porte médio, com alto índice de industrialização e pouca presença da agricultura familiar. Encontrar agricultores familiares cooperados na sua região que produzam comida, que estejam dispostos a produzir para venda e ajudar nessa organização (como fazem os CSAs) é a melhor maneira de acesso a esses produtos. - explica Elaine.


- Eu consigo fazer compras coletivas com certos produtores locais. Acabo juntando algumas pessoas do meu trabalho que se preocupam com as questões sociais e ambientais e conseguimos facilitar a entrega dos produtores locais, que ao invés de entregar na casa de cada um, deixam aqui no trabalho e assim distribuímos entre nós. Mas acredito que por ser uma empresa de sustentabilidade, a aderência seja maior que outros ambientes de trabalho - conta Fernanda.



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Produtores em fazenda de agricultura familiar. Foto: Divulgação Portal FNP

Atualizado: 29 de jun. de 2020


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Voluntária desenvolve placa de LED no Jardim Gramacho, na Baixada Fluminense - Foto: Daniel Barbutti

Um trabalho voluntário, com apoio de empresas nacionais e multinacionais, tenta romper a barreira social que impede a chegada de um modelo sustentável de energia, proveniente das lâmpadas de LED, às moradias de baixa renda. Este é o objetivo da “Litro de Luz”, ONG fundada em 2016 e que trabalha com o fornecimento de energia elétrica em várias regiões do Brasil sem luz.Seu maior desafio é vencer um problema levantado por estudo do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (INMETRO), que mostrou a falta de acesso das classes mais pobres ao modelo sustentável.


Esse tipo de lâmpadas fluorescentes de LED - Light Emitting Diodes - se tornou cada vez mais popular no Brasil devido ao baixo custo a longo prazo e a maior duração. No ano passado, o Governo Federal desenvolveu parcerias com estados para fornecer energia elétrica provenientes das lâmpadas de LED, mas várias regiões foram pouco beneficiadas, como a cidade do Rio de Janeiro.


Há quatro anos no comando da organização no Rio de Janeiro, Tayane Costa afirma que todas as ações realizadas pela Litro de Luz contam com a colaboração dos moradores.


- Nós basicamente levamos o material e auxiliamos. A gente aplica a metodologia de desenvolvimento social e, no dia da ação, quem faz a montagem do poste e dos lampiões são os moradores. Esse engajamento na comunidade é uma metodologia nossa .A intenção agora é trazer para o Rio de Janeiro a lâmpada de LED. Atualmente temos três tipos de instalação, que são: lampião, postes de iluminação para o local onde não chega o poder público e os módulos de LED que são os mais sustentáveis.

A ONG Litro de Luz também realiza atividades na Região dos Lagos e em outros locais do estado do Rio de Janeiro. Um dos focos de ação da organização se dá em comunidades quilombolas e ribeirinhas, consideradas menos ajudadas pelo poder público. Responsável pela área de operação e tecnologia da Litro de Luz, Guilherme Aragão considera que as ações de energia sustentável ajudam no impulsionamento da economia local.


- Nossa embaixadora do Quilombo Santa Justina, em Mangaratiba, nos enviou um vídeo fazendo farinha de mandioca com seu companheiro. Ali a gente pôde observar iluminação do lampião. Então é muito legal vermos o impacto que a gente tem nas comunidades e impulsionar a economia. A iluminação ajuda a gerar renda para as famílias.


Embora não haja incentivo em grande escala por parte do poder público na instalação de equipamentos que utilizam energia sustentável, já existem diretrizes federais para aumentar a incidência delas. De acordo com o analista de arquitetura da Eletrobras Daniel Delgado, a concessão do Selo Procel, que é uma garantia legal de venda, serve para aumentar o consumo de lâmpadas por parte dos consumidores.


- Esse selo permite ao consumidor conhecer, entre os equipamentos e eletrodomésticos à disposição no mercado, os mais eficientes e que consomem menos energia, como por exemplo as lâmpadas de LED. Além de contribuir para a disponibilidade de novos tecnologias, o Selo Procel incentiva o seu consumo no mercado brasileiro.


No último ano, a Eletrobras disponibilizou mais de 30 milhões de reais, via Programa Nacional de Iluminação Pública Eficiente, o Procel. A entidade informou que o projeto visa tornar mais eficiente a iluminação pública de vias de todos os municípios do país. O Procel Reluz ainda explicou que a ideia é disponibilizar nos próximos anos um legado de energia limpa em todo o Brasil.



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Moradora do Jardim Gramacho com voluntário da ONG Litro de Luz - Foto: Daniel Barbutti

  • Gabriela Tapajós
  • 11 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 28 de jun. de 2020


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A economia de água é feita com a finalidade de gastar menos dinheiro. Foto: Heloísa Andrade

O isolamento social fez com que as pessoas passassem a perceber o consumo excessivo de água e energia, e a quantidade de resíduos gerados, avaliou Larissa Kuroki, coordenadora de conteúdos do Instituto Akatu. Dirigente de uma ONG que tem como objetivo divulgar junto à população práticas de consumo consciente, Larissa ressaltou que este tem relação direta não com a preocupação ambiental, mas com gastar menos dinheiro.

A gente espera que esses novos hábitos sejam mantidos ao longo do tempo, mas precisamos prestar atenção nas compras online. As pessoas estão vivendo um momento de ansiedade, estão todos muito aflitos, e essa ansiedade pode acabar sendo descontada em compras por impulso, compras desnecessárias, apenas por uma satisfação momentânea. Além disso, há muita exposição a anúncios e à movimentação de delivery, o que também influencia o consumismo nesse sentido.

Todavia, de acordo com o economista da PUC-Rio Christian Travassos, a sociedade brasileira não pode ser considerada consumista, já que a desigualdade social restringe o acesso tanto ao ambiente de compra quanto ao dinheiro. Ainda segundo ele, a conjuntura socioeconômica do Brasil atual é uma de adoção do rótulo de consumo consciente no discurso, mas não na prática. Isso pode ser visto em maior e menor escalas: desde pessoas que têm acesso ao consumo e optam por não reciclar por preguiça até empresas que degradam o meio ambiente e usam o selo verde.


- Na pandemia, as pessoas estão mais conscientes no consumo porque ninguém sabe o que vai acontecer amanhã, ou seja, o consumo é reduzido pela insegurança. Apesar disso, muitas coisas que acontecem hoje em dia já eram tendência antes. Os indicadores econômicos não estavam positivos, o que fazia com que nós já estivéssemos vivendo um período de incertezas antes. Outro exemplo de tendência acentuada são os serviços de delivery e de saúde, que já estavam passando por uma crescente valorização por conta da inversão da pirâmide social do Brasil, analisa.


Em um artigo publicado no site Taylor & Francis Online, Maurie J. Cohen, professor de Estudos Sustentáveis no Instituto de Tecnologia de Nova Jersey, analisa se o COVID-19 marcou uma transição para o consumo consciente na China. Nessa pesquisa, Cohen conta que os chineses não estão tendendo para o consumismo desenfreado, o que se dá por causa da união da falta de dinheiro e da crescente percepção de que os itens não essenciais são um excesso, já que foi possível sobreviver meses sem esse consumo. Apesar disso, Cohen pontua que é possível que a população logo esqueça como era a situação durante o isolamento social.


O caso brasileiro foi analisado recentemente em uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Instituto FSB, divulgada no dia 7 de maio. Segundo a CNI, três em cada quatro brasileiros vão manter o consumo reduzido após o fim da pandemia do coronavírus. Entre um grupo de 11 diferentes bens de consumo, os únicos que aparentemente são pontos de interesse de compra nos 90 primeiros dias pós-pandemia são as roupas e calçados. A partir de um ano após o fim do isolamento, os índices dos outros 9 bens de consumo abordados na pesquisa voltam a normalizar.


A quarentena proporcionou uma reflexão sobre os hábitos de consumo para a universitária Heloísa Andrade, 19 anos. No caso dela, o consumo era mais descontrolado em centros comerciais pelo acesso imediato ao produto comprado, o que não acontece na compra online. Por conta desse distanciamento entre consumidor e produto, Heloísa consegue identificar se aquilo é de fato necessário.

- Uma coisa que diminuiu muito para mim foi o consumo de delivery, surpreendentemente. Por estar em casa, percebi que tenho tempo de fazer minha comida e que não preciso gastar aquele dinheiro que costumava gastar com tanta frequência. É um benefício duplo, na verdade, porque eu também estou gerando menos resíduos e vivendo um estilo de vida um pouco mais sustentável do que vivia antes, relata.

A arquiteta Mariana Costa, 24 anos, não se considera consumista, mas sentiu dificuldade em frear o consumo de itens não-essenciais durante a quarentena. No caso dela, o maior dificultador é saber que o dinheiro não é gasto com outras coisas e, por consequência, ela teria dinheiro a mais para consumir aquilo que tivesse vontade. Apesar disso, Mariana o consumo é significativamente menor do que seria normalmente.

- O que eu mais compro normalmente são roupas e acessórios, costumava comprar mais de uma peça todo mês. Eu ainda tenho vontade de comprar, e sempre acabo olhando lojas online por causa disso, mas nunca realmente aperto o botão de finalizar compra porque fico insegura. Tenho medo de vir o tamanho errado e ao mesmo tempo fico desanimada pensando no tempo que teria que esperar até a entrega, conta.


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Lojas online investiram fortemente no e-commerce durante a pandemia. Foto: Mariana Costa

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