Junta Local: Feira de produtores locais na zona sul do Rio de Janeiro, Botafogo. Foto: Site Junta Local
O preço elevado e o acesso limitado dos alimentos locais são as maiores dificuldades que o Locavorismo tem para alcançar um grande número de pessoas, segundo a socióloga política Elaine de Azevedo, da Universidade Federal do Espírito Santo. O movimento que traz a consciência na origem do que se come, prioriza os produtos de forma local, os quais não viajaram quilômetros para chegar até as prateleiras do supermercado.
O movimento é atrelado ao movimentos de Agricultura Orgânica ou Ecológica e de Agroecologia. A socióloga aponta as as maiores dificuldades do Locavorismo em seu artigo de 2013, “O ativismo alimentar na perspectiva do Locavorismo”.
O Locavorismo é um movimento que cresceu na atualidade estimulado pela preocupação com a quantidade de substâncias nocivas nos alimentos. Os altos índices de agrotóxicos fazem a procura de produtos orgânicos aumentar.
Na prática, a forma mais comum que o Locavorismo tem, é a compra de produtos direto de agricultores, de pescadores artesanais, de agrofloresteiros, de quilombolas, de indígenas, e todas pessoas que possuem pequenas produções que moram perto do local de venda.
- O que é “perto” não é um consenso no Locavorismo. Pode ser no seu município, estado ou mesmo país. Mas eu diria que, para um país continental como o Brasil, a noção de alimento local está muito atrelada ao Estado ou ao município de origem. - Elaine relata.
A bióloga Fernanda Tubenchlak aderiu ao movimento após manter contato constante com os produtores de agricultura familiar em seu campo de estudo da biologia. Hoje em dia, a prática deste consumo tornou seu estilo de vida, assim como para outras pessoas, o qual demanda atenção em pequenos detalhes nas compras de produtos.
Pode parecer complicado aplicar esse estilo de vida em meio a cidade urbana. Encontrar produtos com rótulos específicos e claros sobre sua origem não são uma tarefa fácil. Mas existem outras dimensões de apoio para o Locavorismo. Principalmente para a população urbana que depende das prateleiras do supermercado, as feiras de comércio local estão em alta nas cidades grandes do Brasil.
No Rio de Janeiro, na zona sul da cidade, a necessidade de aproximar o produtor ao consumidor foi percebida pelos criadores da Junta Local, feira realizada frequentemente em botafogo. Com objetivo de trazer maior transparência e acesso mais democrático à comida boa, local e justa, Thiago Nasser, fundador da feira, conta que o público não vê a comida como um produto em si, e sim além, como a relação com o produtor e a transformação social que pode ser gerada.
- Atendemos um público que enxerga valores importantes na comida e como pode ser uma ferramenta de transformação social. O alimento é além de um rótulo de orgânico, sem glúten ou sem lactose. É um bem que pode ter uma apreciação maior, com qualidade e consumido de forma que valoriza o produto, produtor e o meio ambiente. - aponta Nasser.
A Junta Local iniciou em 2015 com a colaboração de quinze produtores locais e com frequência de uma feira mensal. Hoje em dia, Thiago conta que possuem 150 produtores locais associados e um aumento para quatro feiras mensais. A cidade que antes comportava eventos de alimentos com pegadas gastronômicas que passaram a desaparecer, foi substituída por feiras de comércio local.
Atualmente, o Rio de Janeiro e cidades brasileiras como São Paulo e Belo Horizonte possuem lugares que oferecem opções locais além das feiras, como mercearias, grupos de compra coletiva, compra direta do produtor, pequenos mercados ou o sistema CSA (Comunidade que Suporta Agricultores).
ALTERNATIVA SUSTENTÁVEL
Uma das formas de apoio ao produtor local é o chamado originalmente de Community-Supported Agriculture, traduzido em português para Comunidade que Sustenta a Agricultura. Como um dos meios de proporcionar mais sustentabilidade, a bióloga Fernanda Tubenchlak explica que o modelo apresenta uma prática de trabalho conjunto entre produtores de alimentos orgânicos e consumidores.
- Um grupo fixo de pessoas se compromete por um determinado tempo a cobrir o orçamento anual da produção agrícola, enquanto recebem o que foi produzido por este sítio. O bom é que o produtor não sai no prejuízo se acontecer alguma coisa com a sua produção, no máximo cada pessoa que contribuiu irá receber alguns produtos a menos do que costuma obter. - conta a bióloga.
A prática ainda não é comum. Mas segundo Elaine, existe uma variedade de lugares nas áreas urbanas que promovem este contato do consumidor e produtor com as cestas de produtos orgânicos. O projeto de extensão da UFRJ, Capim Limão, organiza feiras de agricultores no campus da universidade e a ordenação de cestas orgânicas para alunos e professores.
- Eu ouso dizer que em muitas capitais e cidades grandes é mais fácil encontrar alimentos locais e orgânicos do que alguma cidades de porte médio, com alto índice de industrialização e pouca presença da agricultura familiar. Encontrar agricultores familiares cooperados na sua região que produzam comida, que estejam dispostos a produzir para venda e ajudar nessa organização (como fazem os CSAs) é a melhor maneira de acesso a esses produtos. - explica Elaine.
- Eu consigo fazer compras coletivas com certos produtores locais. Acabo juntando algumas pessoas do meu trabalho que se preocupam com as questões sociais e ambientais e conseguimos facilitar a entrega dos produtores locais, que ao invés de entregar na casa de cada um, deixam aqui no trabalho e assim distribuímos entre nós. Mas acredito que por ser uma empresa de sustentabilidade, a aderência seja maior que outros ambientes de trabalho - conta Fernanda.
Produtores em fazenda de agricultura familiar. Foto: Divulgação Portal FNP