A Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj) identificou que mais de 1,5 bilhão de sacolas plásticas deixaram de circular no estado desde o embargo da distribuição no estado. A estimativa divulgada pela gerente de comunicação da Asserj, Clara Abrahim, revela que houve uma redução em cerca de 50% no fluxo de sacolas plásticas pelas redes associadas, em relação ao mesmo período do ano anterior.
A lei estadual 8006/18 aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que entrou em vigor no dia 26 de junho de 2019, obriga as lojas de varejo a trocarem as bolsas de plástico por modelos feitos com material renovável. Autor da lei, o deputado estadual e ecologista Carlos Minc explica que a redução está sendo feita de forma progressiva e, ao final de 2022, a meta é atingir uma diminuição de 80%. Segundo ele, apesar dos bons números, a medida enfrentou grande resistência, principalmente por parte dos consumidores e das indústrias de plástico.
- Depois que a lei foi aprovada, a associação das indústrias de plástico teve uma resistência brutal. Chegaram a fazer um lobby para reverter a decisão na Câmara dos Deputados e propor aos supermercados um boicote. E naturalmente, os consumidores também foram contrários no início, porque estavam acostumados em usar um número ilimitado de sacolas e de forma gratuita. Com o passar do tempo, ninguém gosta de pagar por nada, então começaram a levar as bolsas reutilizáveis para o mercado.
Por sua vez, o presidente do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Rio de Janeiro (SIMPERJ), Gladstone Santos, acredita que a proibição da produção e distribuição de alguns produtos plásticos não irá resolver o problema do meio ambiente. Segundo ele, o grande problema é o consumo e descarte incorretos desses produtos pela população. Santos afirma que o poder público também é um grande vilão, uma vez que não destina os resíduos que foram descartados corretamente pelos consumidores conscientes.
- A gente acredita firmemente que proibir não vai educar a população. O que precisa ser feito é a conscientização do descarte correto, da separação dos resíduos domiciliares, da coleta seletiva, da separação da coleta através da cooperativa de catadores e da destinação correta desses produtos para reciclagem. O Brasil tem hoje capacidade de reciclar muito mais do que recicla e têm recursos para dar segunda vida ao resíduo.
A assessora do deputado Carlos Minc, Denise Lobato, ressaltou que a lei busca a redução da distribuição das sacolas plásticas e não substituição por sacolas recicláveis - que ainda são de plástico. Ela revelou que a Associação dos Supermercados do RJ comprometeu-se a defender o meio ambiente após ver os bons resultados da legislação e o apoio da sociedade paulistana (em SP há uma lei semelhante, porém restrita a supermercados). Denise afirma que a campanha pelo cumprimento da lei, ao lado do apoio da maioria da sociedade, fizeram com que a postura da Asserj contagiasse os demais ramos do comércio.
- Nosso modo de vida atual, sem que a gente perceba, faz com que o uso do plástico seja cada vez maior e mais abundante. Os rios e mares estão inundados desse material matando os peixes e o mundo submarino. Nós usamos cada vez mais embalagens. Os pratos, copos e talheres de plástico descartáveis em bares e lanchonetes também precisam ser abolidos. A praticidade tem um preço ambiental.
MUDANÇA NA CULTURA DOS CANUDOS PLÁSTICOS
Em quase dois anos de proibição da distribuição dos canudos plásticos, a Vigilância Sanitária multou 52 estabelecimentos comerciais na cidade do Rio de Janeiro, pelo uso indevido do material. O dado é tratado com otimismo pelo órgão fiscalizador e demonstra que a Lei 6.384, que entrou em vigor em julho de 2018, foi bem aceita entre os comerciantes e a sociedade. Como alternativa, os bares, lanchonetes e restaurantes começaram a oferecer canudos de papel ou de material biodegradável, menos nocivos ao meio ambiente.
No entanto, a redução no uso do material ainda não foi capaz de impactar positivamente a vida marinha. Quem garante isso é o biólogo Mário Moscatelli, especialista em gerenciamento e recuperação de ecossistemas costeiros. Segundo ele, o canudo é apenas mais um no comprometimento da vida marinha e não o principal. Para Moscatelli, além do plástico, o despejo de esgoto sem tratamento, agrotóxicos, fertilizantes e a pesca abusiva são os responsáveis pela dizimação dos ecossistemas marinhos e a recuperação não será rápida.
- É um processo lento, que depende principalmente da mudança de hábitos da população. A sociedade consumidora, em que vivemos, precisa mudar seus comportamentos predatórios, escolhendo produtos menos poluidores ou utilizando embalagens recicláveis. As leis ambientalistas, dos últimos anos, ajudam nessa mudança de hábitos e, somente assim, poderemos garantir a preservação marinha.
Os canudos plásticos foram banidos nos estados do Acre, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, São Paulo e no Distrito Federal. Em 17 dos 18 estados que ainda permitem a comercialização do artefato há ao menos um projeto de lei no Legislativo estadual para proibi-lo. Apenas no estado de Rondônia não há um projeto que tramita na esfera legislativa.
De acordo com um estudo da Organização WWF Brasil existem iniciativas a nível municipal em ao menos 80 cidades - boa parte delas no litoral. O município do Rio de Janeiro foi a primeira cidade do país a banir os canudos plásticos, porém a lei não vale para todo o estado.
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