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  • Giovana Braga
  • 29 de jun. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 2 de jul. de 2020

Pioneiras do conceito no país, as gêmeas Patrícia e Natália Bello, de 32 anos, são criativas até na definição do seu negócio: “É tipo um netflix de roupa”. Para elas, essa é a ideia central da loja Entrenós, montada pela dupla em janeiro de 2020 em São Luís, no Maranhão. “É um guarda-roupa compartilhado, que funciona através de uma mensalidade, onde você paga e tem acesso a todo o nosso acervo”.


Antes mesmo da pandemia, elas já sabiam a necessidade de uma moda sustentável que não agredisse o planeta -e que ao mesmo tempo não perdesse o estilo da marca. A ideia de compartilhar roupa surgiu na Europa, é nova no Brasil e divide opiniões, mas em termos de sustentabilidade ela é uma saída com efeitos a curto e a longo prazo. - Para quem não faz parte do plano mensal, pode alugar de forma avulsa as peças do acervo - explicou Patrícia, que enfatizou que unir moda e sustentabilidade é uma questão urgente, tanto no Brasil como no resto do mundo. Sem contar que a peça, que pode ser usada por 7 dias, tem a lavagem por conta da loja.

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foto: reprodução/Lucas Fonseca

No momento em que o mundo encara uma pandemia global, o setor da moda está repensando todos os seus aspectos por necessidade: seja pelo ritmo de produção, seja pela temporada de desfile, ou seja pela forma de consumir. Mas mais do que isso, o Brasil era o segundo maior gerador de primeiro emprego na área da moda, segundo a ABIT (Associação Brasileira de Indústria Têxtil), e também representa a maior cadeia têxtil completa da moda no hemisfério ocidental (significa que produz desde as fibras, a partir da plantação do algodão até os desfiles de moda propriamente ditos). Antes da covid-19, a indústria da moda gerava 1,5 milhão de empregos diretos e 8 milhões indiretos (sendo 75% composto por mulheres).


Construir uma moda justa e transparente, sem exploração e que gere empregos já era um desafio, mas com a agravação de uma pandemia global, virou um assunto urgente. Tratar o vestuário como serviço, e não como mercadoria, corresponde a uma parcela desse desafio, assim ressignificando o campo da moda, como elas contaram: “O nosso convite diário é que você se questione: “eu preciso de mais uma peça de roupa?” “De onde vem essa roupa?””. Mas para isso é preciso mobilização, coletividade, e principalmente esforços da sociedade civil, tanto no setor público quanto na iniciativa privada.


E é assim que Patrícia e Natália enxergam esse momento -elas que construíram a primeira loja de guarda-roupa compartilhado do Maranhão, e uma das 5 primeiras do Nordeste, nos contaram. “Tudo que é novo leva um tempo para ser aceito na sociedade. E com a gente tem sido um exercício diário de explicar como funciona, de falar nosso propósito”. Elas já sabiam que seria uma longa estrada criar algo novo, mas com a pandemia tiveram que se reinventar mais uma vez, agora mergulhando no mundo online, com vendas no Instagram, delivery e marketplace. Elas contam que as clientes aproveitam mais das roupas do “dia-a-dia” do que de roupas de festa, por exemplo, que antes era o mais comum. “Pra mim foi uma saída útil porque já não gostava de comprar roupa, e sempre pensava que estava gastando dinheiro a toa, já que prefiro variar nas roupas”, conta uma das primeiras clientes, Rafaela Pereira, de 32 anos.

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foto: arquivo documentário/google.


A crise atingiu a moda e é essa a nova realidade que essa indústria terá que lidar. Valores capitalistas foram colocados em cheque, e acumulação e produtividade desenfreada são repensadas de forma acelerada. “Para esse momento de pandemia, encontramos algumas saídas: tínhamos lançado uma semana antes da quarentena o brechó e o marketplace, para vender produtos de produtores locais. E por conta desse momento de crise, a nossa aposta agora será nisso”, diz Patrícia Bello. As irmãs contam que para que haja uma moda inclusiva, é preciso compartilhar o seu espaço, e por isso o brechó online funciona com qualquer pessoa que tenha alguma peça que queira vender.


O impacto desse “novo normal” e as novas tendências de consumo -como por exemplo o guarda-roupa compartilhado- dialogam e propagam uma moda ecológica sem agredir o planeta. Segundo as gêmeas empreendedoras, a roupa mais sustentável é aquela que já existe, prolongando assim a vida útil e evitando mais danos ao planeta.

A moda sempre sofreu mudanças de acordo com as necessidades impostas pela sociedade. Desde mudanças locais até guerras globais ela se reinventa, e um clássico exemplo é a calça jeans feminina -que começou a ser usada na primeira guerra mundial. Foi ali, pela primeira vez que as mulheres deixaram as saias pesadas de lado e deram espaço a calça jeans, já que iriam ocupar postos de trabalho braçal -uma vez que os homens estavam indo para a guerra- e graças a isso, quase um século depois, a calça se tornou uma peça comum no guarda-roupa feminino.


No Brasil, o panorama da realidade da indústria da moda atual é retratado no documentário “Estou me guardando para quando o carnaval chegar”, feito pelo diretor Marcelo Gomes em julho de 2019, que mostra a cidade de Toritama, em Pernambuco, considerada um centro ativo do capitalismo local. É no interior do Nordeste que mais de 20 milhões de jeans são produzidos anualmente em fábricas caseiras, e que corresponde a 20% de todo o jeans do Brasil.


O documentário traz a tona uma discussão sobre trabalho autônomo, perda de direitos trabalhistas e a construção de uma nova relação com o tempo. Mostra trabalhadores que exercem atividades que demandam uso intensivo da mão de obra, que não requer estudo qualificado, e consequentemente com baixa remuneração e condições de trabalho precárias. Sem estrutura nenhuma, os proprietários das fábricas trabalham sem parar, numa escala de produção frenética -exceto no Carnaval, por isso o título do documentário-.


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foto e edição: reprodução/Lucas Fonseca.


Quando se trata do futuro da moda, o primeiro combate é ao consumo exagerado e o incentivo a uma consciência que gere menos impactos socioambientais. O consumo desenfreado, considerado uma prática do passado, é e será substituído pelo consumo consciente, o que não é só mais uma questão de estilo de vida, mas também de sobrevivência no mercado. O guarda-roupa compartilhado é uma das primeiras portas na prática, que atende as necessidades dos consumidores e une com o propósito de um mundo ecologicamente sustentável.

  • Marcela Cotrim
  • 15 de jun. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 29 de jun. de 2020



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Salada com batata assada, repolho, vagem e folhas de rabanete - Foto: Denise Berman

O isolamento aumenta o interesse pela compostagem doméstica e estimula as pessoas a refletirem sobre seus hábitos, principalmente acerca do consumo e dos resíduos, afirmou o empresário Claudio Spinola, um dos criadores da loja de produtos sustentáveis “Morada da Floresta”. Sua percepção é reforçada pela bióloga e dona da loja “Pensando ao Contrário” Camila Victorino. Para ela, o isolamento e a crise econômica gerada por ele fazem com que muitos percebam o grande índice de desperdício de alimentos gerados dentro de casa e comecem a procurar novas formas de consumo mais voltadas ao que não é descartável.


- A compostagem doméstica é uma incrível solução ambiental para o resíduo orgânico, é uma solução não apenas ecológica, mas é educativa, econômica e social também. Ela estimula muita coisa para a família que começa a fazer compostagem, se essa família não separava os resíduos recicláveis ela começa a separar, ela começa a prestar mais atenção nos alimentos, no que ela está comprando de alimento para casa, se o alimento que ela usa é industrializado ou natural - afirma Spinola.

Compostagem é um processo biológico de valorização da matéria orgânica que pode ser feito em casa por qualquer um. É considerada uma reciclagem do lixo orgânico, na qual minhocas e micro-organismos como fungos e bactérias realizam um processo natural da degradação de matéria orgânica e a transformam em húmus, um material rico em nutrientes e fértil, que pode ser reutilizado como adubo em hortas. A Morada da Floresta oferece a composteira Humi, com diferenciais que ajudam na hora da limpeza das caixas e no seu deslocamento.


Camila Victorino exemplifica a mudança de certos comportamentos com a chegada da pandemia quando relembra a falta de absorventes nas farmácias no início do isolamento. Isso pode ter feito com que muitas mulheres repensassem e buscassem alternativas sustentáveis como as calcinhas absorventes e copos menstruais.

- Práticas sustentáveis são mais baratas à longo prazo do que o nosso modo de consumo atual. Por exemplo, ao invés de comprar papel toalha, papel filme, papel manteiga para cozinhar, é possível trocar o papel toalha por panos, o papel filme por tecido encerrado vegano e o papel manteiga pelo tapete de silicone. Todas as alternativas fogem à lógica do descartável e em longo prazo são mais baratas - diz a empreendedora.

Pequenos hábitos como usar canudos de inox, absorventes de pano ou coletores menstruais, fazer o seu próprio desodorante caseiro, substituir produtos de higiene industrializados pelos naturais e ter uma horta em casa, são atitudes que já fazem a diferença, tanto no bolso quanto no meio ambiente. A chef do Buffet Vegano Banana Buffet, Thallita Flor, diz que o veganismo pode ser muito mais vantajoso, principalmente no cenário atual do mundo. Ela destaca que ao consumir de sua própria horta, a necessidade de se expor às ruas e aos mercados diminui.

O preço de alguns produtos orgânicos, que fogem da “corrente dominante” das produções em larga escala, é um empecilho para que mais pessoas passem a ter hábitos sustentáveis. Os indivíduos das Classes C e D não têm acesso à tais produtos, que acabam tendo preços mais altos do que aqueles produzidos pelo sistema vigente. Para a empreendedora e dona da primeira loja Zero Waste do Brasil, Lívia Humaire, “o difícil é justamente entender quais são os negócios, iniciativas e práticas que realmente não alimentam ainda mais esse sistema”. Para ela, é preciso incentivos governamentais e apoios para iniciativas que trabalham com propostas sustentáveis de forma séria. Um dos motivos pelos quais os produtos convencionais são mais baratos são porque as empresas não pagam os custos ambientais e sociais problemáticos atrelados a eles.


Claudio Spinola explica ainda que as lojas com foco em sustentabilidade produzem produtos de melhor qualidade e em pequena escala, com um preço de custo alto. Esses fatores atrelados geram um produto mais caro. Spindola diz que essas lojas só vão conseguir gerar um produto compatível financeiramente com o da produção convencional se o governo der algum tipo de apoio, como a redução de impostos na carga tributária, tendo em vista que as empresas sustentáveis disponibilizam produtos que geram impactos benéficos à sociedade e ao meio ambiente; e também quando a própria sociedade passar a consumir mais tais produtos. Na medida em que as vendas aumentam, os pequenos produtores têm um percentual de lucro excedente, que paga além das contas fixas e do custo de produção, e portanto, conseguem reduzir os preços.




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Desodorantes orgânicos fabricados em casa - Foto: Gabriella Meneses

  • João Alexandre Borges e Lucas Pessôa
  • 14 de jun. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 22 de jun. de 2020


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Homem carrega suas compras em sacolas reutilizáveis - Foto: Lucas Pessôa

A Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj) identificou que mais de 1,5 bilhão de sacolas plásticas deixaram de circular no estado desde o embargo da distribuição no estado. A estimativa divulgada pela gerente de comunicação da Asserj, Clara Abrahim, revela que houve uma redução em cerca de 50% no fluxo de sacolas plásticas pelas redes associadas, em relação ao mesmo período do ano anterior.

A lei estadual 8006/18 aprovada pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que entrou em vigor no dia 26 de junho de 2019, obriga as lojas de varejo a trocarem as bolsas de plástico por modelos feitos com material renovável. Autor da lei, o deputado estadual e ecologista Carlos Minc explica que a redução está sendo feita de forma progressiva e, ao final de 2022, a meta é atingir uma diminuição de 80%. Segundo ele, apesar dos bons números, a medida enfrentou grande resistência, principalmente por parte dos consumidores e das indústrias de plástico.

- Depois que a lei foi aprovada, a associação das indústrias de plástico teve uma resistência brutal. Chegaram a fazer um lobby para reverter a decisão na Câmara dos Deputados e propor aos supermercados um boicote. E naturalmente, os consumidores também foram contrários no início, porque estavam acostumados em usar um número ilimitado de sacolas e de forma gratuita. Com o passar do tempo, ninguém gosta de pagar por nada, então começaram a levar as bolsas reutilizáveis para o mercado.

Por sua vez, o presidente do Sindicato da Indústria de Material Plástico do Rio de Janeiro (SIMPERJ), Gladstone Santos, acredita que a proibição da produção e distribuição de alguns produtos plásticos não irá resolver o problema do meio ambiente. Segundo ele, o grande problema é o consumo e descarte incorretos desses produtos pela população. Santos afirma que o poder público também é um grande vilão, uma vez que não destina os resíduos que foram descartados corretamente pelos consumidores conscientes.

- A gente acredita firmemente que proibir não vai educar a população. O que precisa ser feito é a conscientização do descarte correto, da separação dos resíduos domiciliares, da coleta seletiva, da separação da coleta através da cooperativa de catadores e da destinação correta desses produtos para reciclagem. O Brasil tem hoje capacidade de reciclar muito mais do que recicla e têm recursos para dar segunda vida ao resíduo.

A assessora do deputado Carlos Minc, Denise Lobato, ressaltou que a lei busca a redução da distribuição das sacolas plásticas e não substituição por sacolas recicláveis - que ainda são de plástico. Ela revelou que a Associação dos Supermercados do RJ comprometeu-se a defender o meio ambiente após ver os bons resultados da legislação e o apoio da sociedade paulistana (em SP há uma lei semelhante, porém restrita a supermercados). Denise afirma que a campanha pelo cumprimento da lei, ao lado do apoio da maioria da sociedade, fizeram com que a postura da Asserj contagiasse os demais ramos do comércio.

- Nosso modo de vida atual, sem que a gente perceba, faz com que o uso do plástico seja cada vez maior e mais abundante. Os rios e mares estão inundados desse material matando os peixes e o mundo submarino. Nós usamos cada vez mais embalagens. Os pratos, copos e talheres de plástico descartáveis em bares e lanchonetes também precisam ser abolidos. A praticidade tem um preço ambiental.


MUDANÇA NA CULTURA DOS CANUDOS PLÁSTICOS


Em quase dois anos de proibição da distribuição dos canudos plásticos, a Vigilância Sanitária multou 52 estabelecimentos comerciais na cidade do Rio de Janeiro, pelo uso indevido do material. O dado é tratado com otimismo pelo órgão fiscalizador e demonstra que a Lei 6.384, que entrou em vigor em julho de 2018, foi bem aceita entre os comerciantes e a sociedade. Como alternativa, os bares, lanchonetes e restaurantes começaram a oferecer canudos de papel ou de material biodegradável, menos nocivos ao meio ambiente.

No entanto, a redução no uso do material ainda não foi capaz de impactar positivamente a vida marinha. Quem garante isso é o biólogo Mário Moscatelli, especialista em gerenciamento e recuperação de ecossistemas costeiros. Segundo ele, o canudo é apenas mais um no comprometimento da vida marinha e não o principal. Para Moscatelli, além do plástico, o despejo de esgoto sem tratamento, agrotóxicos, fertilizantes e a pesca abusiva são os responsáveis pela dizimação dos ecossistemas marinhos e a recuperação não será rápida.

- É um processo lento, que depende principalmente da mudança de hábitos da população. A sociedade consumidora, em que vivemos, precisa mudar seus comportamentos predatórios, escolhendo produtos menos poluidores ou utilizando embalagens recicláveis. As leis ambientalistas, dos últimos anos, ajudam nessa mudança de hábitos e, somente assim, poderemos garantir a preservação marinha.

Os canudos plásticos foram banidos nos estados do Acre, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte, Santa Catarina, São Paulo e no Distrito Federal. Em 17 dos 18 estados que ainda permitem a comercialização do artefato há ao menos um projeto de lei no Legislativo estadual para proibi-lo. Apenas no estado de Rondônia não há um projeto que tramita na esfera legislativa.


De acordo com um estudo da Organização WWF Brasil existem iniciativas a nível municipal em ao menos 80 cidades - boa parte delas no litoral. O município do Rio de Janeiro foi a primeira cidade do país a banir os canudos plásticos, porém a lei não vale para todo o estado.

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Jacaré nada em rio poluído por sacola plástica - Foto: Mário Moscatelli

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