Absorventes de plástico descartáveis, que impactam o meio ambiente por levar até 500 anos para se decomporem, não são a única opção possível para atravessar o ciclo menstrual. A bióloga Michele Santos, especialista em Saúde Pública, disse que um número crescente de mulheres busca alternativas menos agressivas à natureza e ao próprio corpo, substituindo o popular produto por opções mais conscientes e reutilizáveis, como absorventes de pano, coletores e calcinhas menstruais, ou então tentando reduzir o uso dos descartáveis e procurando descartá-los corretamente.
Vendidos no país desde 2015, os absorventes reutilizáveis são escolhas mais sustentáveis porque reduzem a quantidade de lixo gerado (uma mulher joga no lixo em torno de três quilos de absorvente por ano). Além disso, a bióloga explica que os materiais são menos nocivos ao ambiente e, no caso dos absorventes ecológicos e calcinhas, se decompõem mais rápido após o descarte, levam entre seis a dois anos.
Eles são sim boas opções, desde que usados conscientemente. Não adianta querer trocar de coletor a todo momento, não é necessário, por exemplo, ter três coletores ou ficar trocando todo mês - esclarece Michele.
Marina Reis, proprietária da Carinho Absorventes de Pano, acredita que a menstruação sustentável é um processo de reflexão, que se inicia com pesquisa e auto-análise para compreender qual alternativa funcionará melhor para cada corpo e rotina. A transição do descartável para o reutilizável é um momento de adaptação até a mulher se sentir segura e confortável com seu novo ciclo. Há sete anos Marina produz absorventes de pano para uso pessoal e em 2019 passou a comercializar suas criações para ajudar mulheres que desejam um período menstrual mais ecológico e seguro.
- São inúmeros os benefícios dos produtos sustentáveis, mas acredito que o maior deles está na conexão da mulher com seu ciclo. Recebo depoimentos maravilhosos sobre o momento da lavagem dos absorventes de pano, algo que parece ser um fardo vira um cuidado pessoal - conta Marina
Uma relação feminina mais sustentável com a menstruação é sentida pela estudante Marcelle Souza, que diz ter passado a se conhecer melhor por conta do uso de calcinhas menstruais. A universitária relata que buscou outro método para lidar com seu ciclo após desenvolver uma forte alergia aos absorventes de plástico. Além disso, ela queria diminuir o impacto negativo dos descartáveis na natureza. Marcelle encontrou a solução nas calcinhas reutilizáveis, que levam até dois anos para se decompor, e acredita que hoje seu ciclo não gera consequências danosas ao meio ambiente.
- Se não usarmos plástico já é um avanço. Pensar que eu não produzo mais tanto lixo é quase um alívio. Eu me sinto bem mais limpa, no sentido de não causar sujeira - ressalta Marcelle
Minimizar as consequências prejudiciais à natureza também foi o que motivou a designer de moda Sophia Rodrigues a aderir ao coletor menstrual, e logo depois à calcinha. Para ela, o grande número de absorventes não biodegradáveis usados mensalmente é o que causa o impacto, não a menstruação. Sophia ressalta também que os produtos sustentáveis são mais econômicos no longo prazo, por serem reutilizáveis. Em um ano, uma mulher com fluxo médio gasta pouco mais de R$80 em absorventes descartáveis. Enquanto um pacote com 16 absorventes externos custa cerca de R$7, o preço do coletor varia entre R$50 e R$100, porém este pode ser usado em média por cinco anos (o tempo de uso é diferente para cada marca).
- Na hora da compra é mais caro mas, como pode ser usado novamente, não é um gasto mensal. É uma economia significativa no longo prazo - lembra Sophia
Por sua vez, a estudante Vitória Brandão lembra que nem toda mulher deseja adotar o uso de absorventes de pano, coletores e calcinhas menstruais. Ela conta que não se adaptou a nenhuma das alternativas, não se sentia segura ou confortável em um momento já desconfortável. A estudante reconhece as consequências do descarte de absorventes de plástico na natureza, mas acredita que o debate da menstruação sustentável pode criar uma narrativa de culpabilização feminina, ao tornar obrigação da mulher a diminuição do impacto ambiental de seu ciclo.
- A questão seria mesmo investir em alternativas sustentáveis que garantam conforto para diferentes tipos de mulheres ao invés de culpar elas por não se adaptarem - afirma Vitória
Um equilíbrio entre bem-estar, confiança no produto (descartável ou reutilizável) e a rotina da mulher é a principal questão para a estudante Camila Santos, que diz ter ciclo "misto" com uso de absorventes de plástico e calcinhas menstruais. Ela destaca que, além de serem biodegradáveis, os produtos de tecido irritam menos a pele e por isso são mais agradáveis de usar. A estudante conta que ainda utiliza os não-recicláveis em dias de fluxo intenso que precisa ficar muito tempo fora de casa, e acredita que essa situação deve ser a mesma para muitas mulheres.
- Os sustentáveis são, sim, melhores para o equilíbrio do planeta, mas podem ser difíceis de adaptar para uma rotina corrida. Muitas vezes é difícil excluir totalmente os produtos descartáveis, por isso, acho que a diminuição já é um bom caminho para a redução do lixo - explica Camila.
Registros históricos apontam que sociedades antigas, como os egípcios, contavam com produtos para absorver o sangramento mensal feminino e estes objetos evoluíram até chegar às alternativas que temos hoje, descartáveis ou não. A menstruação é um processo natural do ciclo reprodutivo feminino que por si só não afeta negativamente o meio ambiente, porém a fabricação dos produtos para este período tem um significativo impacto ambiental (além de necessitar de grande volume de água, muitos usam produtos químicos abrasivos ao solo).