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Atualizado: 1 de jul. de 2020

O ecofeminismo defende que a emancipação feminina e a erradicação dos estereótipos de gênero são medidas favoráveis ao meio ambiente. De acordo com Daniela Rosendo, doutora em Filosofia e autora do livro pioneiro no Brasil ​"Sensível ao Cuidado: Uma perspectiva ética ecofeminista", este é um movimento social e um campo de estudo que surgiu na década de 70, com a proposta de potencializar uma relação não opressora entre os seres humanos e todo o resto da natureza, a partir da chamada ética do cuidado, que deve ser exercida por todos.


— Tradicionalmente a ética é pautada nos valores da razão, que são associados à masculinidade. Já a ética do cuidado mostra que a amizade, a emoção e a empatia, associados à feminilidade, também são valores importantes. O cuidado é um trabalho não remunerado, que não deve ser exclusivo das mulheres. Ele nos faz repensar nossas relações e encontrar meios de superar todas as formas de opressão, como o racismo, o sexismo e a homofobia.



Daniela Rosendo. Foto: Arquivo pessoal.
Daniela Rosendo. — Foto: Arquivo pessoal.

Uma pesquisa feita em 2016, liderada pelo professor de marketing Aaron R. Brough, da Utah State University, nos Estados Unidos, indica que os homens podem optar por não assumir uma postura ambientalmente amigável para não comprometer a masculinidade. Mais de duas mil pessoas participaram de um experimento em que, tanto homens e mulheres, consideraram femininos alguns comportamentos de consumo consciente, como reciclar, não comer carne ou carregar sacolas reutilizáveis. Para Daniela, o ecofeminismo é uma lente pela qual se pode enxergar o mundo, não é propriamente uma corrente do feminismo, mas pode auxiliar diversas vertentes


— O Sagrado feminino muitas vezes é relacionado ao ecofeminismo, mas esta não é uma luta que envolve só as mulheres, é um movimento que reivindica a justiça num sentido mais amplo. Enquanto uma iniciativa que faz as mulheres perceberem todos os seus potenciais e virtudes, o Sagrado feminino pode ser muito positivo. Mas é preciso tomar cuidado para não atrelar a ideia de mulher e meio ambiente de forma a colocar os homens como seres culturais e racionais, pois esse dualismo apenas reforça uma estrutura de opressão.



Capa do livro "Sensível ao Cuidado: Uma perspectiva ética ecofeminista." Imagem: Arquivo pessoal.
Capa do livro "Sensível ao Cuidado: Uma perspectiva ética ecofeminista." — Imagem: Arquivo pessoal.

A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta que pessoas em situação de vulnerabilidade são mais afetadas por problemas ambientais, como desastres e mudanças climáticas. Em geral, mulheres e crianças do Sul Global são maioria neste grupo. Daniela afirma que a intersecção entre as diferentes formas de opressão justifica a importância de uma ampliação da agenda feminista, que reconheça as pautas animalistas e ecológicas.


A luta feminista ajuda a estudante Ana Beatriz Meneses a repensar os hábitos de consumo. Ela explica que, antes de se identificar com a causa, tinha um comportamento mais impulsivo nas compras. Atualmente, Ana prefere comprar em brechós, customizar o que já tem e repassar para outras pessoas objetos que não usa mais.


— Como eu gosto de ler e sempre comprei muitos livros, eu costumava querer edições novinhas. Hoje eu penso mais no ciclo do livro, e passo os que já desapeguei para bibliotecas de escolas, por exemplo. O feminismo abriu os meus olhos para o mundo. Agora eu consigo ver como a produção ainda mantém um regime muito escravocrata, muitas pessoas trabalham por centavos. Eu conheço uma pessoa que é dona de uma confecção e paga 40 centavos para a costureira fazer uma roupa.



Ana Beatriz Meneses. Foto: Arquivo pessoal.
Ana Beatriz Meneses. — Foto: Arquivo pessoal.

O estudante Luca Salgado diminuiu o consumo de carne e se assumiu preocupado com o meio ambiente. Ele afirma que só percebeu algumas desigualdades quando se viu afetado por elas, ao se deslocar da Zona Norte do Rio de Janeiro para frequentar a faculdade, na Zona Sul. Segundo o jovem, é mais difícil para os homens prestarem atenção nas questões ecológicas por serem criados para não demonstrar sensibilidade e, ao mesmo tempo, se beneficiarem de uma posição privilegiada.


— Eu acho que as mulheres são mais propensas que os homens a se preocuparem com as causas ambientais, não por serem mais evoluídas ou algo assim, mas porque nós vivemos em um mundo explorado por homens, e eu digo por experiência própria que é muito mais difícil abrir os olhos para as explorações quando se ocupa esse lugar de privilégio. Para mim faz sentido que seja mais fácil para as pessoas marginalizadas compreenderem que o sistema do mundo é desgovernado. Quando você está ganhando você não questiona muito.



Luca Salgado. Foto: Arquivo pessoal.
Luca Salgado. — Foto: Arquivo pessoal.





  • Caroline Névoa e Clara Alexandre
  • 11 de jun. de 2020
  • 1 min de leitura

Atualizado: 29 de jun. de 2020


À primeira vista, pode-se dizer que o consumo consciente está aumentando no Brasil: mais pessoas na mídia e em redes sociais abordam o tema, estudos mostram um aumento no número de adeptos do veganismo e vegetarianismo, produtos orgânicos estão mais difundidos e atividades como ciclismo e pedestrianismo - prática esportiva que consiste em percorrer grandes marchas a pé - vêm se popularizando. Contudo, no Brasil, o consumo consciente ainda é um consumo de nicho.

Embora tenha se tornado mais fácil encontrar produtos que atendam este ideal, ainda há muito a fazer para que o consumo consciente se normalize e seja uma opção para todos. Muito mais que atitudes individuais de cada cidadão, é preciso que sejam criadas e fortalecidas políticas públicas para que o consumo consciente se popularize no país. O governo tem um papel crucial na questão: deve dar o exemplo e realizar compras sustentáveis. Outros protagonistas são os supermercadistas, agências reguladoras e grandes empresas.

Caroline Névoa e Clara Alexandre conversaram com Samyra Crespo, jornalista e historiadora que já esteve na presidência do Jardim Botânico e no Ministério do Meio Ambiente, como titular da Secretaria de Relações Institucionais e Cidadania Ambiental Aqui, você ouvirá as diferenças entre consumo consciente e consumo sustentável, um panorama de ambos no Brasil, a questão das certificações e a relação das empresas com esse tipo de consumo.

  • Gabriela Tapajós e Marina Louro
  • 11 de jun. de 2020
  • 1 min de leitura

Atualizado: 16 de jun. de 2020

O consumo consciente é uma tendência no mundo todo, mas no Brasil existem algumas particularidades. Os brasileiros têm hábitos sustentáveis, mas não se reconhecem como consumidores conscientes, porque as ações são impulsionadas pela economicidade. A falta de informação é um fator que dificulta a apuração de um número exato de brasileiros que são consumidores conscientes.

Nos últimos anos, houve o aumento da busca por uma vida sustentável, com destaque em algumas áreas, como o consumo de produtos orgânicos na alimentação e a moda. Além disso, é observado que a sociedade brasileira também tem o hábito de reproduzir aquilo que vê outras pessoas fazendo, como no caso da adoção dos canudos de metal e do uso de ecobags, por exemplo.

Com toda essa discussão, é comum que muitas pessoas se questionem sobre o que é, de fato, o consumo consciente, e como cada um pode contribuir. Para tirar essa dúvida e muitas outras, Gabriela Tapajós e Marina Louro conversaram com Larissa Kuroki, coordenadora de conteúdos do Instituto Akatu, ONG que trabalha com a conscientização a respeito do consumo consciente.

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