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Pandemia faz de brasileiros consumidores mais conscientes, diz ONG

Foto do escritor: Gabriela TapajósGabriela Tapajós

Atualizado: 28 de jun. de 2020


A economia de água é feita com a finalidade de gastar menos dinheiro. Foto: Heloísa Andrade

O isolamento social fez com que as pessoas passassem a perceber o consumo excessivo de água e energia, e a quantidade de resíduos gerados, avaliou Larissa Kuroki, coordenadora de conteúdos do Instituto Akatu. Dirigente de uma ONG que tem como objetivo divulgar junto à população práticas de consumo consciente, Larissa ressaltou que este tem relação direta não com a preocupação ambiental, mas com gastar menos dinheiro.

A gente espera que esses novos hábitos sejam mantidos ao longo do tempo, mas precisamos prestar atenção nas compras online. As pessoas estão vivendo um momento de ansiedade, estão todos muito aflitos, e essa ansiedade pode acabar sendo descontada em compras por impulso, compras desnecessárias, apenas por uma satisfação momentânea. Além disso, há muita exposição a anúncios e à movimentação de delivery, o que também influencia o consumismo nesse sentido.

Todavia, de acordo com o economista da PUC-Rio Christian Travassos, a sociedade brasileira não pode ser considerada consumista, já que a desigualdade social restringe o acesso tanto ao ambiente de compra quanto ao dinheiro. Ainda segundo ele, a conjuntura socioeconômica do Brasil atual é uma de adoção do rótulo de consumo consciente no discurso, mas não na prática. Isso pode ser visto em maior e menor escalas: desde pessoas que têm acesso ao consumo e optam por não reciclar por preguiça até empresas que degradam o meio ambiente e usam o selo verde.


- Na pandemia, as pessoas estão mais conscientes no consumo porque ninguém sabe o que vai acontecer amanhã, ou seja, o consumo é reduzido pela insegurança. Apesar disso, muitas coisas que acontecem hoje em dia já eram tendência antes. Os indicadores econômicos não estavam positivos, o que fazia com que nós já estivéssemos vivendo um período de incertezas antes. Outro exemplo de tendência acentuada são os serviços de delivery e de saúde, que já estavam passando por uma crescente valorização por conta da inversão da pirâmide social do Brasil, analisa.


Em um artigo publicado no site Taylor & Francis Online, Maurie J. Cohen, professor de Estudos Sustentáveis no Instituto de Tecnologia de Nova Jersey, analisa se o COVID-19 marcou uma transição para o consumo consciente na China. Nessa pesquisa, Cohen conta que os chineses não estão tendendo para o consumismo desenfreado, o que se dá por causa da união da falta de dinheiro e da crescente percepção de que os itens não essenciais são um excesso, já que foi possível sobreviver meses sem esse consumo. Apesar disso, Cohen pontua que é possível que a população logo esqueça como era a situação durante o isolamento social.


O caso brasileiro foi analisado recentemente em uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em parceria com o Instituto FSB, divulgada no dia 7 de maio. Segundo a CNI, três em cada quatro brasileiros vão manter o consumo reduzido após o fim da pandemia do coronavírus. Entre um grupo de 11 diferentes bens de consumo, os únicos que aparentemente são pontos de interesse de compra nos 90 primeiros dias pós-pandemia são as roupas e calçados. A partir de um ano após o fim do isolamento, os índices dos outros 9 bens de consumo abordados na pesquisa voltam a normalizar.


A quarentena proporcionou uma reflexão sobre os hábitos de consumo para a universitária Heloísa Andrade, 19 anos. No caso dela, o consumo era mais descontrolado em centros comerciais pelo acesso imediato ao produto comprado, o que não acontece na compra online. Por conta desse distanciamento entre consumidor e produto, Heloísa consegue identificar se aquilo é de fato necessário.

- Uma coisa que diminuiu muito para mim foi o consumo de delivery, surpreendentemente. Por estar em casa, percebi que tenho tempo de fazer minha comida e que não preciso gastar aquele dinheiro que costumava gastar com tanta frequência. É um benefício duplo, na verdade, porque eu também estou gerando menos resíduos e vivendo um estilo de vida um pouco mais sustentável do que vivia antes, relata.

A arquiteta Mariana Costa, 24 anos, não se considera consumista, mas sentiu dificuldade em frear o consumo de itens não-essenciais durante a quarentena. No caso dela, o maior dificultador é saber que o dinheiro não é gasto com outras coisas e, por consequência, ela teria dinheiro a mais para consumir aquilo que tivesse vontade. Apesar disso, Mariana o consumo é significativamente menor do que seria normalmente.

- O que eu mais compro normalmente são roupas e acessórios, costumava comprar mais de uma peça todo mês. Eu ainda tenho vontade de comprar, e sempre acabo olhando lojas online por causa disso, mas nunca realmente aperto o botão de finalizar compra porque fico insegura. Tenho medo de vir o tamanho errado e ao mesmo tempo fico desanimada pensando no tempo que teria que esperar até a entrega, conta.


Lojas online investiram fortemente no e-commerce durante a pandemia. Foto: Mariana Costa

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